Como leões entre os homens, os THE FIRSTBORN afirmam-se como uma verdadeira força da natureza num movimento em que cada vez mais a repetição contínua das mesmas fórmulas é confundida com talento. Com raízes bem marcadas no movimento Black Metal da primeira metade da década de 90, a banda revelou desde cedo uma vontade imensa de se destacar da multidão de clones que começavam então a invadir o underground. Na viragem para o novo milénio, já com dois álbuns no fundo de catálogo, aguçaram os sentidos e sofreram uma mutação. O amadurecimento demorou cinco anos, mas eventualmente viu-os definir uma identidade própria e a abraçarem um caminho que é só seu. Na busca por um lugar mais iluminado, foram dando, e continuam a dar, passos seguros na busca pela perfeição.   

 

A novidade «Lions Among Men», quarto álbum de uma carreira que já viu a banda tocar de Norte a Sul do país com a ocasional incursão pelo estrangeiro, sucede a «The Noble Search», de 2008, um disco aclamado pela crítica e pelo público. Na sua essência, este material representa o derradeiro passo em frente na recta de crescimento em que os THE FIRSTBORN caminham desde que se juntaram a em meados da década de 90. Apostando na evolução e no refinamento enquanto colocam o pé no travão da metaforse, «Lions Among Men» eleva-os a um patamar superior; de intensidade, de envolvência e da forma como compuseram um álbum que funciona como uma experiência completa do início ao fim e em que todas as peças estão no sítio certo. Bruno Fernandes explora toda a amplitude das suas cordas vocais, mostrando uma versatilidade incrível e revelando uma capacidade imensa para interpretar, sempre com à-vontade, distintos registos e, sobretudo, diversos estados de espírito. Nuno Gervásio e Filipe Lima assinam um trabalho exemplar a nível da guitarra, incisivo quando tem de o ser e mais experimental quando se requer. Por seu lado, a secção rítmica formada por Hélder Malícia no baixo e Rolando Barros na bateria mostra um pulso decisivo, ondulando e adaptando-se aos temas com uma elasticidade impressionante, movendo-se entre cadências lentas, pesadas e densas, e meios-tempos demolidores, que compõem as fundações de um disco vigoroso e bombástico em termos rítmicos. Uma vez mais, Luís Simões revela-se muito mais que um convidado, desempenhando um papel fulcral no atingir de um nirvana sónico com o seu Sitar, os seus sintetizadores, a percussão e alguns samples. «Lions Among Men» soa enorme, orgânico, credível, fiel aos princípios do grupo e a uma ideia muito pessoal do que é a arte nos dias que correm. 

 

Dando continuidade ao conceito budista a que aderiu e que desenvolveu nos dois álbuns anteriores, o colectivo embrenha-se ainda mais numa filosofia verdadeiramente surpreendente – desta vez focando-se na escola de pensamento Mahayana – e deixa que o conteúdo lírico sirva de combustível às composições. O que distingue os THE FIRSTBORN de tantas outras bandas que escrevem música tendo por base um mote comum a todos os temas é a facilidade aparente como equilibram o lado musical e o lírico. Os ganchos estão lá, a segurar a história. Sem nunca sacrificarem uma componente em prol da outra, o quinteto escreveu sete temas que prendem o ouvinte do primeiro ao último dos 55 minutos de duração do disco. Depois da experiência em «The Noble Search» com a dupla Chris Fielding e Bob Weston – nomes associados aos Primordial e Shellac, respectivamente – «Lions Among Men» foi totalmente gravado em Portugal, num dos melhores estúdios do género no país. Os MDL Studios serviram de palco a um processo que se estendeu por seis meses, na busca incessante pela perfeição, em parceria com o engenheiro de som André Tavares. Posteriormente masterizado por Collin Jordan, nos Boiler Room em Chicago, resulta numa viagem sonora de abandono e desprendimento para com o mundo material. Densos, introspectivos, ritualistas e ocasionalmente hipnóticos, os THE FIRSTBORN fazem música desafiante para o ouvinte atento.

 

Line up

Bruno Fernandes

Nuno Gervásio

Hélder Malícia

Rolando Barros

Frederico Brum

Luís Simões